Olivia Arantes de Souza, o alicerce da comunidade

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Membro da escola de samba Coroa Imperial, e presidente do Centro Comunitário do Geisel, fala como o samba se uniu “à grandeza” do laço familiar.
Por Isabel Silva e Marina Fornasier

Olivia Arantes de Souza pertence a uma das famílias fundadoras do Núcleo Residencial Presidente Geisel, em Bauru, cidade localizada no coração do estado de São Paulo. Sua família chegou ao bairro, próximo ao campus da UNESP, no ano de 1979.
Residindo inicialmente no Bairro Vista Alegre, Olívia veio com a família da cidade de Guarantã, de 6.400 habitantes, a 72km de Bauru, seguindo os irmãos, que entraram para o serviço militar.
Em 1979, obtiveram uma casa na COHAB, que se tornaria o bairro Geisel. A construção do sambódromo no quintal de casa, em 1992, foi o estalo que impulsionou a família, que sempre gostou de samba, a formar sua própria escola.
Em 2013, Dona Olívia e a família completam 34 anos na comunidade do Geisel, e há 21, tocam o Grêmio Recreativo Escola de Samba Coroa Imperial da Grande Cidade, uma das principais escolas de samba de Bauru.
Atualmente, aos 63 anos, Dona Olivia preside o Centro Comunitário do Geisel, um exemplo de perseverança para a comunidade.

“Minha filha já nasceu no samba”
“Eu e minhas irmãs sempre fomos carnavalescas, desfilávamos na Escola de Samba Mocidade Independente de Vila Falcão. Com a construção do Sambódromo, decidimos que não tinha sentido desfilar em outro bairro tendo um sambódromo no fundo do nosso quintal” diz Dona Olívia. “A ideia surgiu num consultório de ginecologia. Como secretária de Pedro Tobias [médico ginecologista para o qual Olivia trabalhava], conversando com ele e mostrando algumas fotos do carnaval, decidimos formar uma escola de samba.” continua.
Ana de Barros, matriarca da Coroa Imperial e mãe de Dona Olivia, batizou a escola com o nome de uma planta, a qual só floresce uma vez por ano, no mês de novembro.  
“A história que eu conheço é que surgiram vários nomes para a escola. Aí, de repente a Ana pegou um vaso dela e mostrou dizendo ‘esse vai ser o nome da escola’. Chego até a arrepiar contando a história”, contou Jeremias, sobrinho de Dona Olivia, mostrando que o amor pelo samba atravessa gerações.
A Escola de Samba Coroa Imperial, já alcançou um vice-campeonato do Carnaval de Bauru. Apesar das dificuldades para obter verbas, a Coroa, diferente do caminho feito pelas escolas de samba da cidade, não nasceu como bloco de rua. Em seu primeiro desfile já saía como escola de samba.
A diretoria é formada pelos membros da família. Seu atual presidente é o irmão de Dona Olivia, Avelino de Souza, que também preside a Liga das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas (LESEC).
A presidente do Centro Comunitário, ainda guarda jornais antigos, com reportagens sobre a escola, como lembranças que preservam a história da escola e da própria família:
“Elas abandonam a casa, o fogão e os maridos. As mulheres do samba não perdem o rebolado. Toda vez que se fala em samba logo vem os nomes dos homens de ‘Avelinos’, ‘Pasquais’, ‘Chiquinhos’, ‘ Jaimes’ e ‘Darcys’. Atrás desses homens do batuque estão as mulheres que não aparecem tanto em entrevistas, mas que têm uma participação quase decisiva na heroica tarefa de levar um enredo para rua.” - trecho de reportagem do Jornal da Cidade, de 22 de fevereiro de 1998, quando a mãe de Olivia, aos 97 anos, ainda participava ativamente da produção do desfile.
Nos meses que antecedem o carnaval a casa se torna um ateliê de costura, onde as mulheres da família se unem para confeccionarem as fantasias da ala das baianas, tradição que começou com a matriarca, Ana de Barros, e foi deixada como herança para as filhas e netas, após seu falecimento. “Minha mãe morreu com 98 anos e minha filha já nasceu no samba”, afirma Dona Olivia. Com a colaboração dos moradores do bairro a escola enriquece o carnaval bauruense, trazendo para o sambódromo a riqueza da cultura popular brasileira.

Associação de Moradores do Geisel
A história da família se liga à história da comunidade: “Quando o bairro foi entregue, a Associação de Moradores era uma casinha de Cohab na Rua Orlando Pontes. O primeiro presidente foi o Avelino, meu irmão”, relata a atual presidente do Centro Comunitário. Seu Avelino foi o primeiro presidente da Associação de Moradores do Geisel e, em 1993, Dona Olivia assumiu a presidência da Associação, devido à sua forte relação com os moradores. Porém, em 1995, o Centro Comunitário passou para as mãos de outros presidentes.
Apenas catorze anos depois, a presidência do espaço voltou para a responsabilidade de Olivia, em um termo de concessão de uso de cinco anos. Quando ela assumiu a presidência, o local estava em péssimo estado e apesar de seu trabalho solitário e da falta de apoio da prefeitura, ela tem levantado o Centro Comunitário, tornando-o um espaço agradável para receber a comunidade e oferecendo cursos para os moradores do Geisel.  
A Associação de Moradores tem enfrentado invasões e depredações do espaço, porém Dona Olivia tem lutado sozinha contra essas situações e procura parcerias que garantam bons resultados e preservem o Centro Comunitário. “A prefeitura não nos dá suporte, nós não temos verbas, nem recursos. Eu tive que tentar meios para resgatar o Centro Comunitário para a comunidade, que hoje é um local onde fazemos festa, cursos de pintura e está aberto aos aposentados”, Dona Olivia conta as dificuldades enfrentadas para reerguer o Centro Comunitário do Geisel. Dona Olivia é um exemplo de força e determinação da mulher brasileira. Sua coragem tem trazido benefícios para a comunidade do Geisel e ajuda a manter o carnaval da cidade.

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